quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Paralelas que se cruzam


Caros amigos,

Hoje não estou me sentindo muito bem, o cansaço de todas as coisas que venho vivendo tá começando a refletir no corpo, já que não consegue abalar tanto a alma.
Mas como devo ficar um bom tempo sem escrever, vou publicar um poema que tem uma simbologia bastante forte.

Não estou muito afim de escrever, então só isso basta.

Abraço a todos!

A Lenda da Bruxa

Corre diáfano meu lábio no seu
Eu, sábio, afano o que escorre,
Porre da saliva insólita, um gosto em breu.
Meu rosto em só lhe tardar alívios morre.

Umbigo procura umbigo, encaixe procura encaixe,
Que ache na cura uma praxe de amigo, a loucura comigo
Abrigo é, seguro e sem hora, e por isso te peço relaxe,
Ache e eu confesso nisso senhora me seguro e me figo.

Seio hirto onde toco e me aflijo aprazido em dor,
Flor em jazido que é rijo e oco, onde, ir, toa o enleio,
Receio, gemido e tremor, do beijo ao sexo, o cerne da flor,
Amor incerne e sem nexo, desejo e temor, fremido ao meio.

Braços, pernas mornas, olhar de maga, enfadonhos em fenda,
Abraços, eternas formas de amar a vaga dos sonhos, a lenda.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Não nasci para ter uma história, mas para contas a dos outros...

É caros amigos...
Sem fotos nem nada, vou escrever esse só por que quero passar o tempo.
É bom pra aliviar o vazio do peito.
E é nessa sensação de vazio e de "quase" que eu vou postar um poema que escrevi quando bem moleque. É estranho reler essas coisas e ver que não mudei muito em certos sentidos...
Mas o poema vale, afinal algumas sensações antigas voltaram (não boas, mas voltaram)... Não entendo por que tudo muda e tudo volta. Mas...

Depois dele, um outro poema também na mesma ideia... a ideia do potencial que as coisas têm e da história que carregam. É estranho, mas sempre que ando por uma rua bacana ou coisa assim, tenho a loucura de imaginar o quanto de história essas ruas já presenciaram, casais se reencontrando, casais terminando, velhos amigos se conhecendo pela primeira vez... É angustiante, mas é bom pensar nisso...

Abraço!

Quase me lembrei

As lembranças de hoje me remetem ao tempo em que eu quase fui criança
Infância! Infância de lembranças mortas que eu nunca tive
Nos dias de pular corda que eu me lembro como se tivesse vivido
Ah! E não podia me esquecer da bola
A bola no pé, que nunca tocou o chão com a sola.
E só lá no fundo das lembranças que ela rola
E emerge da minha mente acenando e pra mim mente
A primeira flor que eu não vi
E é sempre o mesmo assunto! Eu tento, mas não mudo...
E retorno ao pó e ao fundo do que eu, quase, nunca fui...
Eu lembro do primeiro amor que eu vivi
Correspondido eu também correspondi
Mas foi só na minha mente
Que, calada, cria e desmente um passado tão perfeito quanto o presente.
E traz o medo do futuro...
Mas eu assisto, só, no muro, que um dia vai ruir!
E ontem quase adolescente... Quase ao lado de quem sente
O meu corpo quase quente... De quem tem éter na mente
Das drogas que eu provei você é eternamente
Pra quem quase teve você... Agora é ter na mente algo que eu preciso esquecer
Mas também é terna a mente, sabe o que é preciso escolher
Faz da escolha algo quase sem razão
Acolhe a vida de quem vai pra outro chão
Molda a escola e ecoa por paredes os gritos de evasão
E muda modas e costumes, cria castos e pagãos...
É como se o universo fosse paralelo
Aos ângulos luminares de um tempo que não existe mais
É a adolescência o começo e fim da vida, a dúvida quase dádiva...
À busca de um divã nessa saída... Mas não precisa fazer sentido
O tempo não é contido ele quase sempre é fugaz
Mas não precisa de um grito, mesmo calado eu a estou ouvindo e agora tanto faz.

O próximo é um pouco mais recente... dos tempos q trabalhava com turismo, ruas etc...

Informação Turística

Morrem os nomes das ruas
Morrem os homens da rua,
E as mulheres também,
Morrem todos aos milhares
Morrem os pássaros mais belos
E as plantas em procelas
Morrem ratos em castelos
Morrem reis em favelas
E pelas ruas passam carros
Que nos muros morrerão
E os casais que pela rua passam
Um dia nem seus filhos passarão
Mas a rua está sempre ali
Fria, sólida e vazia
Em sua mudez voyeur
Com história incrustada em cada grão de terra
Mas assim sempre nua,
Já sem nome, sem lembrança ou referência
Ainda jaz em ti a alma de toda rua
Nostalgia, medo e vã vivência.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Simples


Não tem jeito caros amigos, a beleza está na simplicidade...

Vamos retomar as rédias literárias dessa bagunça aqui pois eu já nem sei mais o que eu já publiquei ou não.

E não há como falar em simplicidade e literatura sem lembrar do Haikai ou Haiku.
O haikai é uma forma de poesia oriunda do Japão na qual se valoriza a simplicidade, a concisão e a objetividade.
Normalmente tratando de assuntos ligados à natureza, no fundo (pelo menos como eu vejo) o haikai representa uma metáfora sobre as condições e os sentimentos do homem, refletidos na natureza.

Mas isso tudo é feito de maneira muito sutil, acho que o haikai é o clássico do hermetismo poético. Embora alguns possam correr o risco de parecer frase de caminhão... Como aliás às vezes penso isso de alguns poemas da Emily Dickinson, mas é outra história.

O Haikai obedece à seguinte regra (em português): 3 linhas contando com 5 sílabas na primeira e na última e 7 na segunda...

Superficialmente é o que sei sobre o assunto, sei um pouco também sobre a influência do estilo em Ezra Pound (por influência de um grande amigo de faculdade), de quem aliás vale e muito destacar o curto poema abaixo (que não é um haikai mas já demonstra a objetividade no trato do poema)... É o meu predileto dele:

Meditatio

When I carefully consider the curious habits of dogs
I am compelled to conclude
That man is the superior animal.

When I consider the curious habits of man
I confess, my friend, I am puzzled.

Esse aí tem muito a ver com minha personalidade atual.

Agora pra finalizar, um poema meu onde tentei atacar de haijin (pessoa que escreve haikai). Mas como não consigo deixar de ser prolixo, juntei 5 tentativas de haikais em torno de um mesmo tema. Abraço a todos e até a próxima!

O Ciclo Sazonal

Frutas são escolhas
Semear de eterno outono
Calma pra que colhas

Folha seca ao pé
Preâmbulo para a vida
Nascida do fim

Olhos de flagelos
Reconhecem, foram belos
Florais, primavera

Disformes as nuvens
E o olhar de quem as vê
Chove, tudo vai...

Vê, cauto ancião,
A cerejeira secar
Termina o verão.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Desequilíbrio


Caros amigos,

Equilíbrio! Essa é a palavra chave da vida, é isso que penso!
Porém um equilíbrio dinâmico, afinal tudo muda o tempo todo... E esse equilíbrio é feito de momentos de profundo desequilíbrio e uma dolorosa reflexão.
Mas como refletir os maiores desequilíbrios do homem?
A paixão é sem dúvida um deles! E quando ela se insinua e se recolhe, se insinua novamente e volta à rejeição... Não há equilíbrio capaz de fazer alguém respirar sem que o ar lhe invada queimando o peito em febre irracional.

Esse menor poeta, não sabe lidar com nenhuma de suas paixões... Entra chutando a porta, atrapalhado, sem saber como agir, dramático... Mas quando se tenta um mínimo contato com a máxima rejeição o que se pode fazer é restaurar o equilíbrio não pela conquista e criação de um possível amor, mas pela negação.
Fingindo que nada aconteceu, mas não sem ranhuras na alma e complexos no corpo.

Gostaria de ter entrado com mais cuidado em vida alheia, com a cautela dos que entram pra ficar, mas agora que entrei com alarde, não posso ficar sendo convidado a olhar a sala de estar num dia e ser expulso pelos pés sujos no outro.

Mas os desequilibrados tendem a escrever melhor, Pessoa que o diga: "E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu."

Um poema de desequilíbrio abaixo, abraço a todos!

Almas Irmãs

Às vezes eu quero chorar e me faltam lágrimas
Quero ler as entrelinhas do meu pensamento e as páginas
De um conto escrito em Português errado
Saber o que eu sinto quando me encontro triste e calado

Quero chamar a atenção de todos...
Fazer com que reparem o quanto eu sofro
Mas não consigo mais sofrer, nem ver meu rosto sempre pálido.
Eu só sinto uma alma doente em um corpo só e cálido

E eu me acostumei a ser como o mar
Estar feliz quando é preciso estar
E a fazer coisas que eu não quero
Mas hoje o teu sorriso eu espero
Preciso e venero, me calo o quanto eu quero.
Aguardo o tempo certo
Mas o tempo é árduo e o corpo, o espectro.
De toda dor que eu senti
De toda cor que eu não vi
E do amor que eu te pedi
Mas quando eu quis o sorriso e a despedida
Não estavas ali

Mas a alma é terna
Eterna, releva tudo e, quase, sempre espera.
Me leva ao mundo e à esfera do teu sempre.
Eleva e retorna ao fundo e quase esquece que é alma
Muda rumos, molda vidas, cria nortes e saídas...
Dá-nos crias e dádivas, toma-nos a vida.
Saúda mortos e cura almas feridas
E quando todas estão caídas é da ternura que se tira
A loucura eterna de almas que suportam corpos
E se erguem como se estivessem sempre ali
E fortes, retornam à vida...

A minha alma ainda não sabe o que é viver
Insiste em se esconder
Esconde o que sente
E só se encontra em ti
Sente dores e se esquece da condição de alma que é

Se nossas almas pudessem dançar...
E se os corpos levitassem
Eu te procuraria onde jamais pudesse encontrar
E faria com que teus olhos jamais me evitassem
Procuraria as palavras que eu não disse
Mergulharia na imensidão, verde, dos teus olhos.
Buscando chegar à tua alma
Extravasando pelos poros
Até que ela aceitasse a minha
Como se sempre estivesse ali.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Tempo de Dionísio!


Caros amigos,
Vem chegando o verão... É tempo de ser terno já que não se pode ser eterno.
Uma poesia mais leve e um pouco mais ao gosto de Dionísio!

Abraço a todos!





A Boca, A Mente E A Mão

A boca e a mente
São duas fontes de verdade incoerente
O pensamento, que já não era tão puro,
É profanado por aquela pagã do som
E audíveis versões de beleza ínfima
São enfermidades da idéia pura
Mas quando declama versos transcendentais
Faz o que era belo tornar-se ainda mais
Mas aí é a mente que torna demente
E ainda prosaico o que é belo
Por que não se contenta em deixar ser
Tem de retorcer de conjeturas o que é arte,
Tem de dessecar em pequenas partes,
Criar teorias, encontrar sinonímias,
Desmistificar insígnias, mesquinharias...
E o soar reconstruir articulável
É profanado por esta pagã do inefável
E sons antimatéria invertem versos
Vórtices vertem vento vociferando
Vértice do indizível voa vagamente
E brilha profanando o que é da boca
E que outrora já foi de outra mente
Porém, quando o verso sai da forma
E vem morar no coração da gente
É quando a mente nos informa
Que a boca precisa de um beijo quente
Só nesse momento há um pleno acordo
No entanto, se a mente no beijar acorda
Indaga ainda precocemente a coisa toda
E vê na alma o manchar-se em fossa oca
E perde a calma, achando erro no que faz a boca
Mas disso tudo a mão é a eterna alheia
Escondida sempre ali, quieta no meio
E dessa briga toda é a única que se alteia
Porque se a coisa é escrita o crédito é dela
Não importa a mente alguma que a faz
Ou se declamada a mão dá logo forma à tela
Pintura gestual, gesto teatral, divide com a boca o algo mais
Mas o seu ápice em todo este irreverente enleio
É que a mão no beijo é a que mais certo pensa
A boca se ocupa, a mente é sempre tensa
Mas a mão é, com despejo e sem receio,
A primeira a saciar o desejo e a morrer no quente seio.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Sonhar e ainda assim se manter acordado!



Ainda

Vai! Leva meu brilho e parte pra qualquer lugar!
Meu passatempo que eu cansei de esperar!
Vai! No seu torto descaminho que eu canto sozinho
Minha música em desalinho com o seu escutar.

Vai! E não se permita nunca olhar pra trás!
Já que quem fica é aquele que sofre mais!
Vai! Que seus passos eu vejo e procuro ensejo
Pra que o gosto do beijo não me seja fugaz

Mas se for, saiba que ainda a faço voltar
Pois sua veleidade é nada mais que a vontade,
Envolta ao medo que tem em segredo, de amar

Mas se alguma dúvida ainda tiver, vai!
Mas não simplesmente pra qualquer lugar
Vai ao meu encontro, pois eu pronto, estarei a esperar!

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Ainda Sem Título...




É um bom título para uma postagem que é uma espécie de biografia distorcida.
Sugestão de uma amiga bastante especial.
Antes tinha tentado alguns títulos como "Reajuste", "Pela Ordem" e coisas do gênero, mas fica "Ainda Sem Título..."

Mas o poema não, pensei nesse título hoje de manhã enquanto tentava ficar acordado.

Aos que lerem fiquem tranquilos, poemas servem paras essas coisas, pra que a gente esvazie o que transborda.

Abraço a todos e até a próxima!

Poema do Vórtice Voraz

Não, não sou feliz!
A felicidade deve ser qualquer coisa de plenitude
E eu sou feito de infindos vazios e ranhuras
E ainda que pareça exagero
Sofro de uma dormência estranha
Que me toma pela entranha sem cura
Mostrando a latente sensação de não ser o que sou.

O que deveria ser?
Eu sinceramente não sei!
Ligo a TV e me recuso a ouvir quieto meus pensamentos
Não! Hoje não serei conduzido a mim mesmo!
A esmo eu cismo em não ter paciência
Aumento o volume da TV dois pontos a mais
Mas calado ainda ouço os meus gritos.

Estranha-me o quão estridente é o grito de medo!
Não há o menor sentido em gritar em vão!

A verdade é uma epifania triste
Hoje sei que o amor existe
Pois sou eu que em muitos ajudo a despertar
Mas como flor que perde pétalas para dar beleza
Perco o meu amor distribuído, sem jamais poder amar!

sábado, 2 de outubro de 2010

Liberdade!!!!!



Caros amigos!

Vem chegando outubro... Mas dá pra considerar ainda um clima de final de inverno com um pouco de atraso.
Acho que todo mundo já sentiu aquela sensação nostálgica do inverno, de respirar fundo toda uma calmaria um pouco triste da solidão.
Mas ao mesmo tempo isso inspira uma certa liberdade, uma sensação meditatória um pouco única.
E acho que é nessa sensação um pouco estranha, sensação de potencial latente pouco utilizado que eu escrevi o poema abaixo, uma espécie de despedida... Queria poder escrever um pouco mais de texto, mas estou vago pra escrever ultimamente (esse é mais um poema um pouco antigo).
Obrigado e até a próxima postagem, que se eu continuar com essa necessidade de escrever, vai ser bem próxima e quem sabe com algo recente.

Banzai Vós

O mundo inteiro parece parado
Enquanto aves de rapina pairam
Sob um melancólico céu de inverno,
Calmaria de triste solidão,
Enquanto um pensar levemente alado
Fecha as asas aos sonhos que partiram
Daquele mesmo céu azul hiberno
Quando amar ainda não era vão.
Hoje o tempo é, às aves, comparado,
Que em vôo adunco, agora, regrediram
Mas não anunciando um tempo verno
E sim uma erma e triste sucessão
De versos que não rimam, mas repetem
De verbos que não calam, mas repelem.

Rodrigo Brioschi

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

As Estações do Homem



Caros amigos!

Alguém já parou para pensar que nós estamos em constante mudança? - Óbvio que sim, na verdade é até um certo clichê.
Mas é a verdade, e verdade também é o fato de sempre retornarmos a um ponto passado (a pessoas passadas também).
Esse poeta menor se pergunta até onde vale a pena procurar uma pessoa do passado que muito o atingiu com palavras (aliás, procurar mais uma vez).
Mas dessa vez acho que não dá! A estação que volto é a maior primavera da minha vida, mas as flores já murcharam e não há por que regar plantas que exalam odores nocivos a mim.
Bom... literatura, falávamos de clichês, românticos e mudanças...
Aliás, quem melhor pra trazer à tona assuntos clichês do que poetas do Romantismo (não, isso não é uma crítica!).
Abaixo uma tradução (minimamente comentada), que me arrisquei a fazer de um poema de Keats, que data de quando eu podia dizer que entendia um pouco de literatura.

The Human Seasons

FOUR Seasons fill the measure of the year;
There are four seasons in the mind of man:
He has his lusty Spring, when fancy clear
Takes in all beauty with an easy span:
He has his Summer, when luxuriously
Spring’s honey’d cud of youthful thought he loves
To ruminate, and by such dreaming high
Is nearest unto heaven: quiet coves
His soul has in its Autumn, when his wings
He furleth close; contented so to look
On mists in idleness—to let fair things
Pass by unheeded as a threshold brook.
He has his Winter too of pale misfeature,
Or else he would forego his mortal nature.

John Keats

As Estações do Homem

Quatro estações na extensão anual;
Há quatro estações na mente do homem:
Tem sua primavera sensual,
Quando inocente só beleza tem:
Tem seu verão, quando lascivamente,
Ama o doce pasto¹ primaveril
De jovem ruminar, o sonho eminente
Que o eleva ao céu: quieto redil²
Su’ alma tem outono, quando escusa
Asa ao vento, satisfeito em velar
As nuvens em ócio – deixar a musa³,
Ignota como nascente, passar.
*E seu inverno é em pálida mesa**,
Finda assim sua mortal natureza.***

Tradução poética por Rodrigo Brioschi do poema The Human Seasons de John Keats.

¹ É interessante notar que "Pasto de Mel" (uma possível tradução para honeyed cud) é uma pastagem atacada por fungos que secretam um melaço na ocasião da reprodução. Definição interessante se pensarmos em Lusty Spring e luxuriously mencionados no poema.
² Para a expressão quiet coves a melhor tradução seria "calmo esconderijo", no entanto, o termo "redil" (curral para a recolha de gado, ou ainda em sentido figurado significando grêmio), facilita a rima e favorece a metáfora criada pelo autor com os termos cud (aqui traduzido como pasto, mas que se refere ao alimento que os ruminantes trazem à boca) e ruminate.
³ Neste ponto, o poema abre um leque de possibilidades, a expressão fair things poderia ser traduzida como "coisas justas" e outras possibilidades similares; no entanto, o termo fair também se refere, poeticamente, à mulher formosa, logo "musa" faz muito bem um meio termo por ser uma palavra poeticamente usada que tanto serve para definir a mulher como as inspirações de um poeta. O termo "fair things" aparece traduzido em outra fonte posteriormente consultada como “tudo”.
* Nesses versos, o poeta quebra o ritmo no original em inglês; para aqueles familiarizados com a escansão por tonicidade verão que o autor opta por versos de cinco pés iâmbicos durante todo o poema, exceto nos dois últimos versos em que o autor excede, terminando com uma sílaba átona. Vale ressaltar que a métrica escolhida para o português foi uma métrica de acordo com a poesia latina clássica (versos decassílabos).
** Trata-se da diferença mais radical em relação ao poema original, pale misfeature seria melhor traduzido como "pálida descaracterização", expressão que inviabilizaria a forma optada para a tradução poética. Apesar de "mesa" não aparecer no poema original, ela, assim como misfeature, faz bem a função de referência à morte.
*** Tradução literal: "ou então ele renunciaria a sua natureza mortal".

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Álvaro Campos ou Ricardo Reis?



Uma dúvida que pode ser comum a qualquer leitor minimamente assíduo de Fernando Pessoa e seus heterônimos é a dicotomia muito clara entre Álvaro Campos e Ricardo Reis.
Teremos todos os desejos do mundo ou haveremos de querer nada para que sejamos livres?
Talvez a resposta seja o equilíbrio de Caieiro.
Só sei que a literatura é tão diferente da vida que meus livros já não me servem de companhia para os momentos de solidão.
Por orientação tenho trazido a busca por me libertar através de não desejar, mas como se livrar do desejo sem que pareça uma fuga da própria vida?
Mas uma coisa é óbvia e foram as meras noções de budismo e os "nãos" que aparecem desde a infância que me fizeram entender... O desejo é uma das maiores fontes do sofrimento. E será que também não seria o motor do mundo?
Querer é poder, querer é sofrer... Uma coisa é certa, jamais quis responder coisa alguma com essa postagem, o mundo se apresenta em interrogação para mim e eu me reservo o direito de ser reticente, ponto final!
Entre parênteses o pensamento nela... a nova vírgula da minha vida, dois pontos para apresentar a palavra chave de tudo: utilidade!
Uma caneta sem carga deixa de ser caneta?
Um amor sem correspondência pode ser amor verdadeiro?
A filosofia é inútil, não adianta enfeitar, não é um manual...
E eu, manifestando em mim todas as imperfeições que repugnam meus próprios sonhos escrevi esse texto como puro devaneio interpretativo para o poema abaixo, que tenta ser zen enquanto o autor tenta ser sem.

Fenótipo de Grises Imperfeições

Fenótipo de grises imperfeições
E de contumaz dúvida escarlatina
No áureo palco de intangíveis ilusões
Faz, d’alma, único brilho na retina.
Traz em si todos os desejos do mundo
E a certeza de não dever ter nenhum
Inserto em um devir semiprofundo
Do herói que perde os sonhos um a um,
Depondo as armas para não mais lutar,
Se opondo à necessidade de ar.
Recôndita em sua anágua, a vida em rede
Alguém irá perdê-la ao medo da dor
A natureza d’água é matar a sede
Ninguém irá bebê-la pelo sabor

Rodrigo Brioschi

Abraço a todos e até a próxima!

sábado, 19 de junho de 2010

Saramago, Superamago, Salvamago...


Caros amigos,

Há tantos assuntos que eu gostaria de falar aqui, planejei e tudo. A considerar, por exemplo, a chegada de Zico ao Flamengo (que já faz um tempo), a Copa do Mundo (pois esse menor poeta é fã de futebol sim!), o último poema que escrevi...
Mas não dá para renegar a parte literária que fala por mim e que é a razão deste blog. Ontem foi um dia de luto para boa literatura: partiu José Saramago.
Ainda não sou um profundo conhecedor e assíduo leitor (sou apenas o menor deles) então não pretendo fazer mergulhos críticos, falar muito da importância do autor e qualquer coisa similar.
Meu conhecimento acerca do autor ainda é limítrofe, mas há muito eu planejo ampliar. "Jangada de Pedra" é fantástico, a ideia de "As Intermitências da Morte" é incrível (e com vergonha, assumo que não os li inteiramente, "intermitências" nada li por falta de oportunidade) e outras belas criações dessa vasta obra.
Mas é com esse limitado conhecimento que digo que a literatura perde um grande gênio, talvez o maior vivo e para entrar no conceito do título, a literatura chora pois agora tem que ficar com seus códigos ou seus magos por aí e se contentar com eles.
A melhor cura ao se deparar com o esvaziamento de conteúdo e reflexão introspectiva dos Browns e os Coelhos dessa literatura hodierna era descobrir os clássicos, era olhar para trás, mas a cura pro desespero da literatura atual, a cura pro Mago da literatura (desculpem o absurdo trocadilho) era Saramago (nosso leve sopro de esperança que agora se vai.
A Saramago, se não tivesse sido um ateu em vida, diria: "vai com Deus que um dia todos nos vemos lá!" Mas por questão de respeito digo apenas: "Obrigado!"
Por fim, deixo um poema que escrevi há muito tempo para foto de Saramago logo acima, eu a vi uma vez num site e achei bastante enigmática e me levou a escrever as linhas com as quais termino essa postagem, muito obrigado a todos e até a próxima!

Para uma Foto de um Poeta

Pareces tão digno à foto
Um olhar que esconde o prólogo,
Óculos inóspitos, e um terno,
Sorriso de um colóquio eterno

Prosaico não podes ser
Um mosaico para entender,
A foto de um poeta é alma
De uma inquietação que se acalma

Poema misteriosamente fóton
Expresso em um olhar de moça na janela
Ainda que sério, duvidas de ser terno?

Pois eu vejo isso em seu bóton
Inexiste, que carregas na lapela
De um tão sombrio ser de terno.

sábado, 29 de maio de 2010

"Hermetismos Pascoais"


Caros amigos!

Toda luz indireta não fere os olhos de quem vê e talvez se torne mais bonita por isso. Mas não sei ser opaco nem fingir ser. Exatamente por isso, um poema que escrevi há um bom tempo atrás.

Sê Hermético

Sê hermético
Deixa o coração encher de dúvidas
Pois os herméticos sofrem menos
Escrevem poemas pequenos
E não sentem a dor da solidão

Por todos os espaços vazios
Herméticos são sempre esguios
Talhando uma própria canção
Escondida dos zelos
Poemas sem elos
Escritos no chão

Pois se eu fosse assim
Não morreria de tédio
Não pularia de prédio
Não perderia amores
Seria pétala sem flores
Perfume no palco da paixão

Se eu fosse assim
Nesse poema cético
Bastava dizer:
Sê hermético
Hermético viver.

- Um paralelo ao final para agradecer aos leitores e ao pessoal que comenta. Obrigado a todos pelo carinho, sobretudo Bárbara, Breno e Mari... Valeu.

Vou aproveitar e postar o último poema que escrevi também, tem um nome meio engraçado, quis dar um efeito diferente e não sei se fui feliz (na verdade, no final, nunca gosto muito do que escrevo mas enfim...)

Compras de Mês

Pague ao rapaz todas as despesas de mês,
Tranque bem a porta e não deixe qualquer luz entrar
Se possível for, pense em mim de duas às três
De qualquer manhã ou qualquer hora onde não se possa acordar

E assim viva sua vida, conte os pisos brancos do chão,
Sinta o cheiro úmido do banheiro nas noites de inverno,
Ouça a chuva calma a acarinhar distante noite de verão
Ou simplesmente relembre de algum momento terno

Notícias de nós, assim como o tempo, um dia passarão
E nem isso há de provocar qualquer frio símile ao hiberno
Pois sua casa terá trancas sempre novas no ermo porão

Assim como seus olhos turvos em tempo hodierno
Hão de devir os mudos olhos da então loquaz razão
Invertendo o tempo por viver tanto tempo em um porvir eterno.

Até a próxima!

sexta-feira, 21 de maio de 2010

"Mais que um poema..."




Meus caros amigos, desculpem, mas a postagem agora é "ligeiramente" personalizada rs.

Obrigado pelo comentário Mari, mas você não precisa nascer no Japão, pra ter um poema. Já escrevi mais de um pra você e já citei várias vezes um poema cada vez que falei seu nome.
Não vou ficar falando muito pra não parecer bobo, mas tem uma diferença entre inspirar e fazer respirar, e você tem sido quem me faz respirar há muito tempo.
Vou deixar aqui o melhor poema que escrevi sobre você, você tem e espero que goste.

Mar e Ilha

Se te isolas assim como uma ilha
Dá-me chance de um dia ser teu mar
Envolver-te nos braços, e beijar
Tua areia erma, apagando a trilha
Da gente que, tua alegria, pilha
E levar flores de todo lugar,
Enfeitar de bruma teu leve ar,
Naus de encanto te aportarão a quilha,
Teu espanto será só maravilha
E tu dormirás sob o meu cantar
Serão teus: peixes e estrela-do-mar
E à noite, trarei a lua que brilha
Seremos nós, o nosso próprio mundo
Mar e ilha num confluir profundo.

Obrigado a todos, bom final de semana e até a próxima. Beijos especiais pra você Mari.

sábado, 8 de maio de 2010

Olhos do Oriente




Caros amigos!

Eu havia prometido algo mais interessante na postagem seguinte. Segue um poema que escrevi para uma amiga que sabe que foi pra ela. Espero que gostem assim como espero que ela tenha gostado. Até uma próxima.

Olhos do Oriente

Guarda em ti a beleza de um haicai
E o adeus saudoso da cerejeira
Que ao seu mistério sempre se desfaz
No sol nascente ao dorso da ribeira

Em teus olhos levemente mordazes,
Linha tênue de céu e perdição,
Meus olhos se perdem longe e fugazes
E o corpo é a loucura da razão

Os lábios grossos parecem sorver
Em sorrisos repletos de flagelos
A lascívia inócua da quimera

Que perturba o afã de entender
Os olhos do oriente que são belos
São flores de uma infinda primavera.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Além do Infinito

Caros amigos!

Sejam bem vindos ao meu blog, esse é o post de abertura (o anterior deixo como um prefácio para quem quiser ver). A julgar pelo título poderia parecer algo profundo é poético, mas poeta de verdade (pelo menos dos menores) sabe ser prosáico também e rir.
Eu não ia escrever nada por um bom tempo (tenho uma preguiça incrível), mas estava rodando pela internet e não consegui parar de rir com uma lista de cantadas.
Vamos começar os trabalhos nesse blog, que não passa de um jornal velho (nome que daria se tivesse tido a oportunidade), com algumas célebres frases colhidas por um passeio virtual. Seguem algumas das melhores:

Não sou plano de saúde, mas garanto carência zero!

Vou te roubar pra mim, porque roubar pra comer não é pecado.

Você tem um mapa? Porque me perdi em teus olhos e estou tentando encontrar o caminho para a sua boca.

E aí, quer me ajudar a mudar o meus status do orkut pra namorando?

E essa aqui eu juro que me vejo usando algum dia:

Sabe por que às vezes a lua tem formato de vírgula? É pra mostrar que nem no infinito, nossa história tem um ponto final!

E retornamos ao Infinito... deve ser Nietzche influenciando. Mas isso é papo pra uma outra história, outra postagem, mas seguindo o assunto, já dei a mancada de usar uma série de frases feitas assim em festa, como eu disse: poeta também vive, principalmente se for menor, mas chega de prosaísmo, minha próxima postagem eu falo de "cantada" de uma maneira mais bela, pelo menos tento (um dos meus poemas mais melosos rs).

Pra quem quiser ver algumas piores (mais picantes e engraçadas) a fonte é http://www.osvigaristas.com.br/frases/cantadas/

Abraço a todos!

sábado, 24 de abril de 2010

O Menor dos Poetas



O poeta carece de ilusões e chora...
Sua vida jamais fora à mão de contra-razões,
Mas parece que agora encontra a ausência,
Enfrenta a demência e perecem as rimas.

Sofríveis mãos que acariciam teclas
Na busca de respostas menos temíveis,
Pareciam vãos a escorrer por letras...
E nada veio ante a luz que ofusca,

Diante de seu próprio nada calado,
A aceitação nodosa e anti-meditante,
Era arder de brasa o entorpecer do ópio
Cortando as próprias asas no ato de morder.

E o esvair do sangue era penetrar as veias de ar
Arquejando por um momento estanque
Na era de um completo e infinito devir,
Um grito por vir ao ver perplexo as asas no chão.

A esse poeta falta o sopro tenaz das paixões
E por razões nem sempre explicadas, nada sobressalta,
Ele salta sobre sua razão com ferocidade mordaz
Pleonástico e inefável, intenta a meta de ter meta

Sarcástico, ah! Esse, senhores, é o nosso poeta!
Às favas com os problemas, com os temores
Mesquinho é o mundo, os axiomas, teoremas
Sem terrores nada é tão fundo, nem nada cáustico

Mas esse nosso trôpego e impagável poeta nada tem
Impecável, em trajes metafísicos, esconde o sôfrego.
Também! São todos uns tísicos no romântico solo
Mas o poeta cala ao colo o ultraje de não ser um

Porque o mais irônico do temível despautério
É que senhores! O nosso poeta se míngua de ideais
E digo mais! Amigos! Não há metas, não há platônico!
A mente é cemitério e a língua não apraz, o poeta falível!

O poeta sabe não haver palavra forte alguma de consolo
Pois o dolo contra a morte é não ter nenhuma meta
Assim senhores! Morre profundo o poeta das noites em manhãs
Sem afãs, mas em açoites morre... Por não mudar o mundo!