
Caros amigos,
Vem chegando o verão... É tempo de ser terno já que não se pode ser eterno.
Uma poesia mais leve e um pouco mais ao gosto de Dionísio!
Abraço a todos!
A Boca, A Mente E A Mão
A boca e a mente
São duas fontes de verdade incoerente
O pensamento, que já não era tão puro,
É profanado por aquela pagã do som
E audíveis versões de beleza ínfima
São enfermidades da idéia pura
Mas quando declama versos transcendentais
Faz o que era belo tornar-se ainda mais
Mas aí é a mente que torna demente
E ainda prosaico o que é belo
Por que não se contenta em deixar ser
Tem de retorcer de conjeturas o que é arte,
Tem de dessecar em pequenas partes,
Criar teorias, encontrar sinonímias,
Desmistificar insígnias, mesquinharias...
E o soar reconstruir articulável
É profanado por esta pagã do inefável
E sons antimatéria invertem versos
Vórtices vertem vento vociferando
Vértice do indizível voa vagamente
E brilha profanando o que é da boca
E que outrora já foi de outra mente
Porém, quando o verso sai da forma
E vem morar no coração da gente
É quando a mente nos informa
Que a boca precisa de um beijo quente
Só nesse momento há um pleno acordo
No entanto, se a mente no beijar acorda
Indaga ainda precocemente a coisa toda
E vê na alma o manchar-se em fossa oca
E perde a calma, achando erro no que faz a boca
Mas disso tudo a mão é a eterna alheia
Escondida sempre ali, quieta no meio
E dessa briga toda é a única que se alteia
Porque se a coisa é escrita o crédito é dela
Não importa a mente alguma que a faz
Ou se declamada a mão dá logo forma à tela
Pintura gestual, gesto teatral, divide com a boca o algo mais
Mas o seu ápice em todo este irreverente enleio
É que a mão no beijo é a que mais certo pensa
A boca se ocupa, a mente é sempre tensa
Mas a mão é, com despejo e sem receio,
A primeira a saciar o desejo e a morrer no quente seio.
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