segunda-feira, 27 de maio de 2013

O Português e A Matemática


 
O Português e A Matemática  
Tenho observado na prática de minhas aulas o que já se sabe em teoria: a maioria das pessoas que gosta de matemática não gosta de português, assim como a maioria das pessoas que gosta de português detesta matemática.
Mas penso que a maioria ainda não descobriu o quanto ambas são parecidas. Exatamente porque ambas são línguas.
Por sua importância e substancialidade, os números da matemática equivalem perfeitamente aos substantivos do português e por sua vez são ao mesmo tempo numerais.
Na matemática, os ordinais não acrescentam muita coisa, pois em algumas operações a ordem dos fatores não altera o produto, e como é bom quando em português conseguimos um abraço igualitário entre o primeiro e o último em um pódio ou quando comprovamos no cotidiano que “os últimos serão os primeiros”.
Por sua característica acionária e sua capacidade de mudar a tudo, os sinais da matemática são os verbos do português e são primos imediatos dos sinais de pontuação também, pois a vírgula não é muito diferente de diminuir as emoções e abreviar os sentimentos, assim como o ponto final é a última divisão a separar uma adição anterior.
Na matemática temos a perfeição onde 1 + 1 é igual a 2 e nesse ponto eu entendo a rejeição dos céticos e a dificuldade de entendimento dos pouco subjetivos, uma vez que no português 1 + 1 pode ser igual a 1 ou ainda a 3, 4 ou mais. Mas quanta perfeição há nisso também em tornar duas pessoas uma só ou em multiplicar.
E por falar em ou, esse, aparentemente, poderia ser uma grande disparidade entre português e matemática, talvez até a maior. Mas é apenas aparência. O ou da matemática é agregador, é conciliador, lembremo-nos das estatísticas, isso ou aquilo se torna uma soma. Ao passo que no português o ou é desagregador, isso ou aquilo se torna uma escolha em que uma só das coisas é viável. Mas felizmente a poesia e a música veio a nos provar que é apenas uma aparência e com sua cauta lucidez nos mostrou que, como pode ser definido com as palavras de “Los Hermanos”, “não te dizer o que penso já é pensar em dizer”. Assim, quando uma soma é dividida e um dos elementos diz que não ama mais é porque ainda cogita amar, é porque ainda pensa: amo ou não amo. E não é uma escolha, uma dicotomia a segregar, no fundo é um pensar que coaduna emoção, razão, passado, presente, futuro tornando as duas variáveis reais, uma vez que ainda se pensa na possibilidade de amar (pela história vivida, pelo carinho contido, pelas lembranças, como um amar latente, dormente) e, também, admite uma nova possibilidade de não se amar pelos novos rumos e rumores impostos pelas razões mais diversas.
Mas português e matemática confluem na tentativa quase vã que o ser humano traz consigo de se fazer entendido por outro, mas se na matemática os parênteses causam dúvidas aos pouco experientes sobre que expressões utilizar primeiro, os parênteses do português e da vida causam dúvidas até aos mais experientes em pensar o que surgiu primeiro: a dúvida, o parêntese razão do mal estar, ou a adição capaz de tornar 1 + 1 = 1. E explicar esses parênteses é um terreno árduo, pois, muitas vezes, o que era explicação de um amor, pode se tornar complicação e dissabor, o que era pedido e diálogo, torna-se discussão e algo é perdido.
E pensando nisso tudo, acho que começo a entender quem não gosta de português e prefere a matemática, pois por não podar bem a “última flor do Lácio”, pode ser que não cuidemos e percamos nossa flor de maio. 
Uma crônica dedicada aos estudantes que frequentemente preferem português à matemática e vice-versa e também dedicada a todos os casais e amores que se perdem nas sinapses imperfeitas de nossa comunicação.
Rodrigo Brioschi