quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Paralelas que se cruzam


Caros amigos,

Hoje não estou me sentindo muito bem, o cansaço de todas as coisas que venho vivendo tá começando a refletir no corpo, já que não consegue abalar tanto a alma.
Mas como devo ficar um bom tempo sem escrever, vou publicar um poema que tem uma simbologia bastante forte.

Não estou muito afim de escrever, então só isso basta.

Abraço a todos!

A Lenda da Bruxa

Corre diáfano meu lábio no seu
Eu, sábio, afano o que escorre,
Porre da saliva insólita, um gosto em breu.
Meu rosto em só lhe tardar alívios morre.

Umbigo procura umbigo, encaixe procura encaixe,
Que ache na cura uma praxe de amigo, a loucura comigo
Abrigo é, seguro e sem hora, e por isso te peço relaxe,
Ache e eu confesso nisso senhora me seguro e me figo.

Seio hirto onde toco e me aflijo aprazido em dor,
Flor em jazido que é rijo e oco, onde, ir, toa o enleio,
Receio, gemido e tremor, do beijo ao sexo, o cerne da flor,
Amor incerne e sem nexo, desejo e temor, fremido ao meio.

Braços, pernas mornas, olhar de maga, enfadonhos em fenda,
Abraços, eternas formas de amar a vaga dos sonhos, a lenda.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Não nasci para ter uma história, mas para contas a dos outros...

É caros amigos...
Sem fotos nem nada, vou escrever esse só por que quero passar o tempo.
É bom pra aliviar o vazio do peito.
E é nessa sensação de vazio e de "quase" que eu vou postar um poema que escrevi quando bem moleque. É estranho reler essas coisas e ver que não mudei muito em certos sentidos...
Mas o poema vale, afinal algumas sensações antigas voltaram (não boas, mas voltaram)... Não entendo por que tudo muda e tudo volta. Mas...

Depois dele, um outro poema também na mesma ideia... a ideia do potencial que as coisas têm e da história que carregam. É estranho, mas sempre que ando por uma rua bacana ou coisa assim, tenho a loucura de imaginar o quanto de história essas ruas já presenciaram, casais se reencontrando, casais terminando, velhos amigos se conhecendo pela primeira vez... É angustiante, mas é bom pensar nisso...

Abraço!

Quase me lembrei

As lembranças de hoje me remetem ao tempo em que eu quase fui criança
Infância! Infância de lembranças mortas que eu nunca tive
Nos dias de pular corda que eu me lembro como se tivesse vivido
Ah! E não podia me esquecer da bola
A bola no pé, que nunca tocou o chão com a sola.
E só lá no fundo das lembranças que ela rola
E emerge da minha mente acenando e pra mim mente
A primeira flor que eu não vi
E é sempre o mesmo assunto! Eu tento, mas não mudo...
E retorno ao pó e ao fundo do que eu, quase, nunca fui...
Eu lembro do primeiro amor que eu vivi
Correspondido eu também correspondi
Mas foi só na minha mente
Que, calada, cria e desmente um passado tão perfeito quanto o presente.
E traz o medo do futuro...
Mas eu assisto, só, no muro, que um dia vai ruir!
E ontem quase adolescente... Quase ao lado de quem sente
O meu corpo quase quente... De quem tem éter na mente
Das drogas que eu provei você é eternamente
Pra quem quase teve você... Agora é ter na mente algo que eu preciso esquecer
Mas também é terna a mente, sabe o que é preciso escolher
Faz da escolha algo quase sem razão
Acolhe a vida de quem vai pra outro chão
Molda a escola e ecoa por paredes os gritos de evasão
E muda modas e costumes, cria castos e pagãos...
É como se o universo fosse paralelo
Aos ângulos luminares de um tempo que não existe mais
É a adolescência o começo e fim da vida, a dúvida quase dádiva...
À busca de um divã nessa saída... Mas não precisa fazer sentido
O tempo não é contido ele quase sempre é fugaz
Mas não precisa de um grito, mesmo calado eu a estou ouvindo e agora tanto faz.

O próximo é um pouco mais recente... dos tempos q trabalhava com turismo, ruas etc...

Informação Turística

Morrem os nomes das ruas
Morrem os homens da rua,
E as mulheres também,
Morrem todos aos milhares
Morrem os pássaros mais belos
E as plantas em procelas
Morrem ratos em castelos
Morrem reis em favelas
E pelas ruas passam carros
Que nos muros morrerão
E os casais que pela rua passam
Um dia nem seus filhos passarão
Mas a rua está sempre ali
Fria, sólida e vazia
Em sua mudez voyeur
Com história incrustada em cada grão de terra
Mas assim sempre nua,
Já sem nome, sem lembrança ou referência
Ainda jaz em ti a alma de toda rua
Nostalgia, medo e vã vivência.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Simples


Não tem jeito caros amigos, a beleza está na simplicidade...

Vamos retomar as rédias literárias dessa bagunça aqui pois eu já nem sei mais o que eu já publiquei ou não.

E não há como falar em simplicidade e literatura sem lembrar do Haikai ou Haiku.
O haikai é uma forma de poesia oriunda do Japão na qual se valoriza a simplicidade, a concisão e a objetividade.
Normalmente tratando de assuntos ligados à natureza, no fundo (pelo menos como eu vejo) o haikai representa uma metáfora sobre as condições e os sentimentos do homem, refletidos na natureza.

Mas isso tudo é feito de maneira muito sutil, acho que o haikai é o clássico do hermetismo poético. Embora alguns possam correr o risco de parecer frase de caminhão... Como aliás às vezes penso isso de alguns poemas da Emily Dickinson, mas é outra história.

O Haikai obedece à seguinte regra (em português): 3 linhas contando com 5 sílabas na primeira e na última e 7 na segunda...

Superficialmente é o que sei sobre o assunto, sei um pouco também sobre a influência do estilo em Ezra Pound (por influência de um grande amigo de faculdade), de quem aliás vale e muito destacar o curto poema abaixo (que não é um haikai mas já demonstra a objetividade no trato do poema)... É o meu predileto dele:

Meditatio

When I carefully consider the curious habits of dogs
I am compelled to conclude
That man is the superior animal.

When I consider the curious habits of man
I confess, my friend, I am puzzled.

Esse aí tem muito a ver com minha personalidade atual.

Agora pra finalizar, um poema meu onde tentei atacar de haijin (pessoa que escreve haikai). Mas como não consigo deixar de ser prolixo, juntei 5 tentativas de haikais em torno de um mesmo tema. Abraço a todos e até a próxima!

O Ciclo Sazonal

Frutas são escolhas
Semear de eterno outono
Calma pra que colhas

Folha seca ao pé
Preâmbulo para a vida
Nascida do fim

Olhos de flagelos
Reconhecem, foram belos
Florais, primavera

Disformes as nuvens
E o olhar de quem as vê
Chove, tudo vai...

Vê, cauto ancião,
A cerejeira secar
Termina o verão.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Desequilíbrio


Caros amigos,

Equilíbrio! Essa é a palavra chave da vida, é isso que penso!
Porém um equilíbrio dinâmico, afinal tudo muda o tempo todo... E esse equilíbrio é feito de momentos de profundo desequilíbrio e uma dolorosa reflexão.
Mas como refletir os maiores desequilíbrios do homem?
A paixão é sem dúvida um deles! E quando ela se insinua e se recolhe, se insinua novamente e volta à rejeição... Não há equilíbrio capaz de fazer alguém respirar sem que o ar lhe invada queimando o peito em febre irracional.

Esse menor poeta, não sabe lidar com nenhuma de suas paixões... Entra chutando a porta, atrapalhado, sem saber como agir, dramático... Mas quando se tenta um mínimo contato com a máxima rejeição o que se pode fazer é restaurar o equilíbrio não pela conquista e criação de um possível amor, mas pela negação.
Fingindo que nada aconteceu, mas não sem ranhuras na alma e complexos no corpo.

Gostaria de ter entrado com mais cuidado em vida alheia, com a cautela dos que entram pra ficar, mas agora que entrei com alarde, não posso ficar sendo convidado a olhar a sala de estar num dia e ser expulso pelos pés sujos no outro.

Mas os desequilibrados tendem a escrever melhor, Pessoa que o diga: "E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu."

Um poema de desequilíbrio abaixo, abraço a todos!

Almas Irmãs

Às vezes eu quero chorar e me faltam lágrimas
Quero ler as entrelinhas do meu pensamento e as páginas
De um conto escrito em Português errado
Saber o que eu sinto quando me encontro triste e calado

Quero chamar a atenção de todos...
Fazer com que reparem o quanto eu sofro
Mas não consigo mais sofrer, nem ver meu rosto sempre pálido.
Eu só sinto uma alma doente em um corpo só e cálido

E eu me acostumei a ser como o mar
Estar feliz quando é preciso estar
E a fazer coisas que eu não quero
Mas hoje o teu sorriso eu espero
Preciso e venero, me calo o quanto eu quero.
Aguardo o tempo certo
Mas o tempo é árduo e o corpo, o espectro.
De toda dor que eu senti
De toda cor que eu não vi
E do amor que eu te pedi
Mas quando eu quis o sorriso e a despedida
Não estavas ali

Mas a alma é terna
Eterna, releva tudo e, quase, sempre espera.
Me leva ao mundo e à esfera do teu sempre.
Eleva e retorna ao fundo e quase esquece que é alma
Muda rumos, molda vidas, cria nortes e saídas...
Dá-nos crias e dádivas, toma-nos a vida.
Saúda mortos e cura almas feridas
E quando todas estão caídas é da ternura que se tira
A loucura eterna de almas que suportam corpos
E se erguem como se estivessem sempre ali
E fortes, retornam à vida...

A minha alma ainda não sabe o que é viver
Insiste em se esconder
Esconde o que sente
E só se encontra em ti
Sente dores e se esquece da condição de alma que é

Se nossas almas pudessem dançar...
E se os corpos levitassem
Eu te procuraria onde jamais pudesse encontrar
E faria com que teus olhos jamais me evitassem
Procuraria as palavras que eu não disse
Mergulharia na imensidão, verde, dos teus olhos.
Buscando chegar à tua alma
Extravasando pelos poros
Até que ela aceitasse a minha
Como se sempre estivesse ali.