quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Álvaro Campos ou Ricardo Reis?



Uma dúvida que pode ser comum a qualquer leitor minimamente assíduo de Fernando Pessoa e seus heterônimos é a dicotomia muito clara entre Álvaro Campos e Ricardo Reis.
Teremos todos os desejos do mundo ou haveremos de querer nada para que sejamos livres?
Talvez a resposta seja o equilíbrio de Caieiro.
Só sei que a literatura é tão diferente da vida que meus livros já não me servem de companhia para os momentos de solidão.
Por orientação tenho trazido a busca por me libertar através de não desejar, mas como se livrar do desejo sem que pareça uma fuga da própria vida?
Mas uma coisa é óbvia e foram as meras noções de budismo e os "nãos" que aparecem desde a infância que me fizeram entender... O desejo é uma das maiores fontes do sofrimento. E será que também não seria o motor do mundo?
Querer é poder, querer é sofrer... Uma coisa é certa, jamais quis responder coisa alguma com essa postagem, o mundo se apresenta em interrogação para mim e eu me reservo o direito de ser reticente, ponto final!
Entre parênteses o pensamento nela... a nova vírgula da minha vida, dois pontos para apresentar a palavra chave de tudo: utilidade!
Uma caneta sem carga deixa de ser caneta?
Um amor sem correspondência pode ser amor verdadeiro?
A filosofia é inútil, não adianta enfeitar, não é um manual...
E eu, manifestando em mim todas as imperfeições que repugnam meus próprios sonhos escrevi esse texto como puro devaneio interpretativo para o poema abaixo, que tenta ser zen enquanto o autor tenta ser sem.

Fenótipo de Grises Imperfeições

Fenótipo de grises imperfeições
E de contumaz dúvida escarlatina
No áureo palco de intangíveis ilusões
Faz, d’alma, único brilho na retina.
Traz em si todos os desejos do mundo
E a certeza de não dever ter nenhum
Inserto em um devir semiprofundo
Do herói que perde os sonhos um a um,
Depondo as armas para não mais lutar,
Se opondo à necessidade de ar.
Recôndita em sua anágua, a vida em rede
Alguém irá perdê-la ao medo da dor
A natureza d’água é matar a sede
Ninguém irá bebê-la pelo sabor

Rodrigo Brioschi

Abraço a todos e até a próxima!