Um Poeta Vivo Demais
E páginas em branco foram meu refrão
De todos os títulos nunca antes escolhidos
O meu preferido é a íntima evasão
Nas estrofes esguias, quando muito havia rima,
As rimas eram pobres e em clima de anticlímax
Eram exaustas e monótonas metáforas que se cria
Ao disfarçar o gélido desmaio de uma neblina
Escrevi versos que jamais foram lidos
E páginas em branco foram meu refrão
De todos os títulos nunca antes escolhidos
O meu preferido é a íntima evasão
O ritmo era sempre demasiado lento
Como um último poeta letrado e sem sentimento
E cometia um erro torpe e derradeiro:
Assinava orgulhoso meu nome mais verdadeiro
Escrevi versos que jamais foram lidos
E páginas em branco foram meu refrão
De todos os títulos nunca antes escolhidos
O meu preferido é a íntima evasão
Mas, inebriado de ser tal poeta, agora
Permito que tal figura descanse em paz
Livrando-me do poeta imberbe de outrora
Pois este também foi um poeta, um poeta vivo demais.
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