sábado, 19 de fevereiro de 2011

Colorem habent, substantiam vero nullam


Nem é bem madrugada e ele já escreve coisas sem sentido.
Justo quando queria matar o tempo, é um dia de 25 horas!
Pensa, reflete com calma e acredita que se houvesse companhia nada seria assim, mas não há.
É curioso acreditar que aqueles que melhor conseguem entender o que é o relacionamento humano estejam sozinhos como um dentista envergonhado de sorrir. Mas as cáries desse homem são mais profundas, são na alma. E nas almas não se arrancam ou é possível fazer tratamento de canal.
Que se viva com os analgésicos passatempos que a vida oferecer.
Pára e pensa por um segundo e de súbito ele sente forte as ironias da vida se mostrando.
É estranho pensar que ao mesmo tempo em que buscamos a perfeição de nossos potenciais, a vida nos faça exatamente o contrário, nos equilibre sobre ela mesma nos diferentes estágios, não nos dando o direito de darmo-nos ao máximo.
Posto que a juventude é o auge de nosso vigor físico, mas nossa carência por direção e conhecimento nos faz tatear a tábua raza da vida até que as farpas penetrem a mão.
E quando conhecemos o caminho e moldamos a madeira, nossa mão já tem calos o bastante para não darmos as formas perfeitas que queríamos, ou seja, quando temos sabedoria não temos mais, tão forte, o vigor da ação.
Como as 25 horas que nos foram dadas e que agora ele queria ter minutos, quando muito, para fugir desse dia!
A outra ironia que se lembra, essa sim ele acredita!
É engraçado que o humano busque tão livremente as formas físicas e tão livremente se relacione a ponto de jamais refletir.
Mas o maior símbolo da liberdade sejam os pássaros, que em muitas de suas espécies são essencialmente monogâmicos (como os agapornis da foto, também chamados de pássaros-do-amor).
Sim, a liberdade não deve ser confundida com a libertinagem... É bom que se lembre disso ao menos na teoria, já que na prática ele também fere as mãos em farpas.
Mas o conhecimento não está em quantos livros se pode ler em um dia, mas em quais se lerá da maneira correta e quais haveremos de decorar (lembrando, senhores, que decorar não tem o significado superficial que se tenta atribuir hodiernamente, e sim vem da palavra coração - no latim "cor" - então decorar é muito mais que memorizar, é ler com o coração, com a alma). Assim como o amor (ou mesmo o sexo) não é questão de quantos se pode ter em uma vida, mas por quantas vidas se pode ter apenas um.
Os pássaros aprenderam isso, o homem ainda não.
É... A essa altura ele percebe que, em vagar pensamentos, uma hora já se passou... Mas... E se o tempo for feito apenas para nos despistar da eternidade? Para tirar a atenção, sabe!? como um aluno olhando para o relógio e contando os minutos pelo fim da aula. Ele se lembra de que Santo Agostinho disse algo próximo disso, com maior eloquência há que se ressaltar.
Há cores, substância de verdade nenhuma.
Deixa o tempo correr... O que é um dia de 25 horas pra quem carrega a eternidade no peito?
"O que é um amor monogâmico e perfeito para quem não é correspondido?" ele pensa, mas desiste do pensamento. O amor vale em qualquer situação, pois todo amor há de ser correspondido à sua maneira.
Além do mais...
Ele ama a vida e o dia que a perder, sentirá tanto que não mais será possível viver.
Ele ama a esperança e o dia que ela terminar, tudo terá terminado, pois ela é a última.
Ele ama o Sublime e o que é completo nunca se esgota.
Ele ama o outro pois é dar a fé ao mundo de que algum outro também o amará.
Deixa-o ter fé, pois agora ele dorme, depois de entender que "quem mata o tempo, não é assassino, é um suicida" (Millor Fernandes) pois deixa a própria vida escorrer.
Amanhã não será mais um dia de 25 horas, mas na normalidade do tempo de um dia, ele terá todas as horas da vida para que faça a vida, e por que não o amor, acontecer...

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